Os desfiles do 8º Vitória Moda

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O show da Konyk - show de coleção, show do ator Thiago Martins, show, show, show!

A cidade de Vitória sedia anualmente o evento Vitória Moda, que tem a nobre função de mostrar o que os criadores e confeccionistas do Espírito Santo estão preparando em suas coleções.

O Vitória Moda veio, neste ano, com muitas novidades no quesito passarela. Algumas que merecem aplausos e outras que, talvez, precisem ser reavaliadas.

Pra começar, o primeiro dia de desfiles foi aberto com uma competição. Este ano a organização do evento decidiu lançar o prêmio “Neófito” que premiaria o melhor criador de Moda “revelação” do estado. O mais bacana é que os criadores foram selecionados através de um edital. Este edital era aberto a todo e qualquer criador de Moda e não apenas a estudantes de faculdades. como geralmente os concursos de criadores o fazem. Afinal, há criadores auto-didata espalhados por todo o país e, geralmente, quem leva o prêmio em um concurso realizado com estudantes de Moda é a Instituição de ensino e não o aluno.

Veja a seguir os nomes dos criadores que se apresentaram e suas respectivas pontuações!

1º – Isabella Vasconcelos H. B. Castro: 270,5 pontos
2º – Mayara Jubini: 269,5 pontos
3º – Monique Marcelli C. Guimarães: 262 pontos
4º – Ligia de Oliveira Pereira: 257,5 pontos
5º – Alyne Batista Angeli: 256,5 pontos

Após o concurso, estiveram na passarela as marcas: Chris Trajano, Clutch, Dua’s, Marcelo Zantti e Amabilis.

Este primeiro dia foi uma calmaria na passarela. As marcas optaram por temas mais sóbrios e coleções bem leves. “É claro, são coleções de verão”, talvez você pense. O que queremos dizer é que aquelas cores super alegres e esfuziantes que geralmente vemos nas coleções de verão não apareceram por aqui. As marcas colocaram bons produtos na passarela, sem peripécias na modelagem mas com bom foco em peças-chave que vão ganhar a clientela.

Chris Trajano, por exemplo, acertou na escolha de tecidos, peças com pouco volume e estampas gráficas. A estampa leve com manchas suaves em amarelo e vinho também foi uma boa sacada. Lembra um tie-dye moderno (algo próximo do shibori, uma tendência forte para 2016) e foi usada em poucos e acertivos looks. Aliás, a uva Pinot Noir é o centro da inspiração desta coleção.  Já a Clutch justificou sua coleção como sendo baseada no tempo. A marca de moda jovem se valeu da passagem da infância para a vida adulta para criar seus looks e o que vemos são blocos de looks mais joviais e blocos de looks mais “sérios”. Ou seja, ao invés de focar num único segmento, como vinha fazendo, a marca ampliou sua atuação de maneira muito sutil. Os acabamentos deixam um pouco a desejar, especialmente nas peças acetinadas.

A marca Dua’s se inspirou nos looks dos anos 1920 ao anos 1970 e pinçou os shapes mais comerciais de cada década. Os vestidos curtos com cintura deslocada dos anos 1920 se uniram aos babados e mangas amplas dos anos 70. As calças bocas-de-sino apareceram repaginadas como as novas “flare”, que, na essência, possuem as mesmas formas. Cores suaves em toda a coleção e apenas 2 estampas marcantes foram o suficiente. Uma coleção simples, direta e muito agradável.

O estilista Marcelo Zantti usou a arquiteta Zaha Hadid Frank O. Gery como fonte de inspiração. As formas não surpreenderam muito: fendas e pontas influenciadas pelo design suntuoso dos musos já estão ficando cansativas. Mais inovadores foram os acessórios: braceletes e colares de acrílico simples, lisos, limpos e marcantes.

Mas surpresa mesmo foi a Amabilis, marca tradicional do mercado e do evento capixaba. A Amabilis tem seu posicionamento frente a um público mais formal e executivo. Mesmo assim, em anos anteriores a marca sempre mostrou mais frescor em suas coleções. Desta vez, a passarela foi tomada por shapes super tradicionais e poucas cores. Talvez a equipe da Amabilis tenha apostado em formas mais vendáveis, mais certeiras, para não abusar da sorta em tempos de crise. O resultado é uma coleção quadradinha e certinha. Bonita sim, mas pouco inovadora. Calça pantalona de cintura alta, vestidos longos e vaporosos,uma infinidade de camisas, saias e peças envelopadas. Estas são as apostas da Amabilis, que fechou a primeira noite de desfiles.

A segunda noite foi tomada pelo jeans e pelos desencontros na passarela. Mas também alguns acertos.

O primeiro bloco de desfiles ficou por conta das marcas Buphallos, Negra Linda e PKP. A Buphallos é uma tradicional marca do segmento country / sertanejo. O que vimos na passarela foi o esperado: jeans e bota estilo cowboy, além de chapéus, é claro. A linha feminina mostrou muitas franjas e uma mescla do estilo “patricinha”, que também é o mais recorrente entre as festas do estilo. Assim, além das franjas, brilho e muito animal print!

A marca Negra Linda confundiu nossas cabeças. O desfile foi colorido e jovial, mas ficou difícil acreditar que se tratava de uma marca de calçados, já que estes eram exatamente os elementos menos vistosos na passarela.  A coleção de calçados veio acompanhada de uma coleção de roupas, claro, que é comercializada nas lojas da marca.

A marca PKP (ou PK Premium) foi a mais audaciosa, embora no quesito produto não tenha mostrado muitas novidades. A marca de jeanswear colocou na passarela uma coleção inspirada mas pin ups da década de 1960. O estilo “mocinha ousada” foi confirmado em bodies super justos, calças de cintura alta, corseltes, calças cigarrete e amarrações em camisas e lenços. Na passarela além dos looks a miss Espírito Santo pluz size 2014, Ranielli Vila Real, também esteve presente e roubou a cena. Mostrou desenvoltura mesmo tendo os movimentos limitados por um tomara-que-caia justíssimo sem fenda na parte traseira.

O segundo bloco de desfiles da noite teve as marcas Açúcar Moreno, Saia de Chita e Riviera.

A Açúcar Moreno levou para a passarela a coleção “Flores do Brasil”. A coleção apresentada foi delicada, com peças leves e um toque de “menina”. Mas algo chamou a atenção: a desproporcionalidade de algumas peças. Alguns tops e vestidos (em especial os curtos, com amarração na cintura)pareciam ser de um tamanho maior que o das modelos. Cavas abertas e um volume sobrando em boa parte dos looks não passou desapercebido. “Pode ser engano seu”, talvez alguém pense. Ou, quem sabe, uma “licença poética” para o criador de Moda. No caso de uma coleção super comercial como é a da Açúcar Moreno, realmente não dá para acreditar que se trate de um novo estilo. O que é uma pena, visto que o styling, a maquiagem e o cabelo mostraram um profissionalismo impecável e o desfile foi super correto.trouxe uma coleção inspirada

Já a marca Saia de Chita mostrou o cruzamento do crochê com a chita. A técnica do crochê com o tecido de algodão (chita) resultou em looks simples e bem frescos. O floral, bem característico da chita, não permite muita flexibilidade no quesito cores. E o crochê foi aplicado na tentativa de mudar este quadro. Mas é realmente difícil ver conexão entre as duas modalidades. A coleção, embora tenha sido super bem feita, com ótimos acabamentos, não mostrou muitas novidades.

Penúltima marca a entrar na passarela neste segundo dia, a Riviera apresentou uma coleção com inspiração setentista. Seu sonho de liberdade inclui vestidos voluptuosos, batas com mangas amplas, ombros à mostra e flores. As estampas contrastantes e a correta seleção de cores garantiu uma coleção bonita de se ver e com desejo de compra, mesmo tendo uma sequência de shapes que já vimos muitas vezes.

A noite foi fechada com o desfile da marca Marcí.

A interação da arte com a natureza presente no Instituto Inhotim, localizado em Minas Gerais, foi a inspiração para o verão 2016 da estilista capixaba Marcí Vago. A flora nativa com Costela-de-adão, estrelícias e folhagem escura viraram estampa.

Embora a coleção não tenha sido um marco, mostrou o profissionalismo da estilista, que inseriu recortes em pontos estratégicos das peças, além de partes enviezadas de tecido.

Na terceira e última noite de desfiles fomos todos surpreendidos. As coleções deram um ar de frescor e criatividade ao evento. A moda praia de Verônica Santolini construiu sua coleção em volta da técnica do macramê. Os acessórios lisos e imponentes não pesaram e ficaram muito bem com os maiôs, ajudando a compor um look mais esportivo. As tramas nas costas de maiôs e laterais dos bottons de vários looks nos lembram as entranhas das florestas tropicais e formam um belo emaranhado.

A seguir veio a novata marca masculina Florest. O ex-bancário Rafael Siqueira mostrou uma coleção para homens descolados. As formas, especialmente das camisetas, tinham detalhes ousados, quase imperceptíveis, mas que fizeram toda a diferença: decotes mais abertos, cortes a fio (sem acabamento), bolsos e acessórios coloridos. Estes homens descolados, clientes potenciais da marca, além de arriscar nos shapes também são optantes pela vestimenta ecologicamente correta, com tingimento natural. Até os tags da marca que vão pendurados nas roupas ajudam nesta vibe. Basta enterrá-los para ter uma diversidade de plantas em seu jardim.  Já a marca Sol de Verão, mais uma estreante, apresentou uma coleção bem comercial, com todas as formas de biquínis e maiôs que irão ganhar as praias no próximo verão: bottons mais comportados, tops com amarrações e brilho discreto.

O segundo bloco de desfiles da noite começou com a Hagaef, que é uma confecção e também uma estamparia. A marca fez uma viagem pelo surreal, pela imaginação humana e pela vontade de sair dos padrões. A Hagaef mostrou ideias simples e criativas para nos fazer sair do óbvio: sobreposições de tecidos e estampas e uma bela interação entre as formas da roupa com a estampa arrancaram aplausos da platéia (destaque para o look coruja e a saia guarda-chuva). A beleza do desfile foi um show a parte: bocas deslocadas, olhos falsos e muitos relógios, tudo embalado pelas obras de Salvador Dalí. Os acessórios foram outro show: brincos em forma de guarda-chuva (o da direita numa posição diferente do brinco da esquerda), um colar de aranha gigante, outro de polvo… ou que tal sair por aí com uma âncora pendurada no braço? O que não vale é encarar a mesmice!

A marca Turquesa colocou uma Índia suave na passarela. Os enigmas de uma dos países mais populosos do mundo foi desvendado em fendas bem colocadas e estampas que tinham o coral, o rosa e o acqua como cores principais.

A marca Surreal também fez peripécias na passarela e nos motivou a pensar sobre a ditadura dos gadgets. Com modelos praticamente “cegadas” por seus smartphones, a marca desfilou uma coleção esportiva, urbana e prática, sem muitos rodeios. Saias na medida, tanto no comprimento quanto no volume, que servem tanto para ir ao escritório quanto pra balada. Peças que misturam o esportivo com o sensual sem exageros. O tecido transparente que compõe o look todo sem parecer vulgar. Os acessórios se desfazendo em plena passarela não tiraram a atenção do espectador, mas é preciso admitir que os smartphones – estes sim – desviaram o olhar da platéia. As modelos os seguravam junto com uma corrente. E esta bloqueou a visão completa dos looks. Mas ainda bem que estamos na era da modernidade digital e existem as fotos em alta resolução para nos ajudar!

A noite foi fechada com o aguardado desfile da Konyk. A marca sempre prepara um show na passarela. Outra característica marcante dos desfiles da Konyk é ver um show no desfile mas uma coleção não tão impactante. E fomos surpreendidos desta vez, ainda bem! Tanto na trilha sonora quanto nos looks a Konyk deu um show! O conjunto foi completo. A trilha foi feita pelo músico, DJ e agitador cultural capixaba Fábio Carvalho. Na passarela ele foi acompanhado pelo Grupo Manguerê e Congo Mirim.

Nas roupas a Konyk mostrou que amadureceu seu produto e fez uma coleção diversificada e coesa. Para reverenciar a cultura capixaba, a marca focou em 5 itens e os transformou em estampa: beija-flor, orquídeas, manguezal de Vitória, coroa do frontispício da Capela Santa Luzia e o piso do Palácio Anchieta, sendo este último transformado numa estampa estilo gravataria que é uma grande tendência. Além das estampas, destaque também para as camisetas alongadas, super tendência, batizadas de oversized (shape comprido e solto), long line (shape comprido, porém molde mais fit), long tail (shape fit com as costas alongadas).

A variedade de camisetas é de impressionar, mas outras peças também merecem destaque, como o macaquinho (que apresentou proposta de uso aberto, com camiseta por baixo), o macacão, as bermudas (de modelagem bem ajustada, na medida), os jeans rasgados, jaquetinhas e as boas propostas de styling, como o total look rosa, a carteira masculina e camiseta com colete.

Outro acerto foi a escolha do ator Thiago Martins para o desfile. Muito carismático, o ator entrou super a vontade na passarela. Dançou, acenou, andou com tranquilidade e pôde focalizar em cada fã apaixonada e jogar beijos para todas elas. Além disto, é uma boa “quebra visual”. Os modelos perfeitos as vezes nos tiram a noção de como a roupa fica numa pessoa mais “real” (desculpem os modelos, mas faz falta ver um homem de carne na passarela). Ele foi um show a parte. Ao final ainda pegou uma criança da platéia e levou para o meio da passarela. Domínio total das câmeras e do momento.

E foi assim, com show, que terminou mais um Vitória Moda!

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