Karen Van Godtsenhoven, curadora do Museu de Moda da Antuérpia, faz a primeira palestra do DPM (Dragão Pensando Moda) e dá uma aula sobre como a relação entre moda e arte pode gerar riqueza cultural e econômica.
Karen é jovem e, talvez por isso, tenha uma visão muito clara do mundo atual. Ela esteve em Fortaleza para mostrar as similaridades e as diferenças da moda autoral que se faz na Bélgica, mais especificamente na Antuérpia, e a moda autoral do Brasil.
O Dragão Fashion é um evento de moda autoral. Com o tempo, a moda comercial também foi sendo agregada. Mas o evento não perdeu suas raízes.
Uma das grandes diferenças entre a moda autoral da Antuérpia e a nossa é que eles conseguem atrair os olhares de milhares de pessoas para suas obras e gerar dinheiro com isso. E de duas maneiras:
-com o valor pago nas entradas das exposições (pois lá eles realmente conseguem olhar para uma peça de roupa bem construída e identificar a arte nela)
-com a movimentação da economia no entorno do Museu.
O MoMu, como é conhecido o Museu de Moda da Antuérpia, fica localizado bem no centro de um bairro cheio de lojas de pequenos criadores. Para chegar ao museu, os transeuntes cruzam com diversas lojinhas e ateliês e passam a se encantar com os produtos. Sendo assim, se uma pessoa vai até o museu para ver a exposição do momento, já começa a vivencia-la do lado de fora.
Mas por que a Moda da Antuérpia é tão importante (talvez você se pergunte)? Bem, será que nomes como Martin Margiela, Dries Van Noten, Ann Demeulemester, Raf Simons (Dior), significam algo para você? Todos eles vieram da mesma escola de Moda da Antuérpia.
Mas, como eles conseguiram se destacar tanto e como a Moda na Antuérpia ficou tão bem estruturada e dá tão certo?
Isto se deve, basicamente, a 3 fatores:
-a Moda local, assim como todo trabalho de arte, recebe apoio institucional e financeiro do governo;
-os estilistas desde o início aprendem não apenas a desenhar e criar roupas, eles são influenciados a criar uma “identidade de moda” para si, ou seja, eles buscam a qualidade chave de seu trabalho e trabalham todo o entorno dela: o produto, a comunicação visual da marca, a maneira de divulga-la. E, para isso, eles fazem parcerias com outros alunos ou outros profissionais, como fotógrafos de moda, maquiadores, designers gráficos, entre outros;
-como cada estilista tem uma característica bem marcada de trabalho, eles conseguiram se organizar em um grupo e saíram pelo mundo para buscar projeção, sem se preocuparem com a concorrência entre eles. Em grupo, fica mais fácil “chegar lá” do que sozinho. Foi assim com Martin Margiela e um grupo de criativos que se formaram com ele. Juntos, eles conseguiram apoio financeiro para ir a Londres durante a semana de Moda e mostrar seu trabalho. Designers gráficos e fotógrafos ajudaram na montagem do material impresso.
Ou seja, tem de haver colaboração.
Segundo Karen, a base de qualquer pessoa deve ser a educação e a cultura. Na Antuérpia, respira-se arte. Em 2001 houve uma intervenção de cultura de moda na cidade toda. Ela foi chamada de “Landed”. De lá para cá, a própria cidade recebe intervenções o tempo todo e os moradores estão envolvidos pela arte.
Karen acha fantástico que tenhamos aqui designers de Moda, fábricas de tecido, confecções… temos a cadeia de moda completa. Na Bélgica não é assim. Eles têm bons criadores mas as confecções que produzem para eles estão em outros países, como Itália e França. Eles não têm uma indústria de manufatura e por isso precisam buscar fora.
Ou seja, temos tudo… mas não temos nada, pois não sabemos nos organizar como grupo e fazer a Moda no Brasil acontecer. Nossos designers ainda ficam perdidos na própria identidade e acabam não conseguindo focar seu trabalho. Vamos aprender com a Antuérpia?