Apresentamos o desfile do estilista Ronaldo Fraga em duas partes. Ronaldo conta histórias através de seus desfiles e, por isso, suas coleções merecem uma dupla atenção!
Nesta primeira parte, vamos ao desfile, em si. E, mesmo assim, já teremos boas histórias.
Nesta coleção, Ronaldo nos convida a adentrar o mundo do artista brasileiro Cândido Portinari, que, mesmo indo para a França (e após ter passado a maior parte da sua vida lá), nunca deixou de ser camponês e de admirar a vida simples de sua terra natal.
“Filho de camponeses italianos, Candinho nasceu em 1903, na cidade de Brodósqui, interior paulista. Cresceu desenhando e colorindo o universo ao seu redor, como a chegada de um circo na cidade, as noites de São João, pipas soltas no imenso céu azul, espantalhos das plantações de café…
Aos nove anos, se ofereceu para participar do processo de restauração da igrejinha da cidade redesenhando o céu de estrelas dos afrescos do altar. Foi assim que seus pais se convenceram da vocação do menino e, apesar dos poucos recursos de que dispunham, o enviaram aos 15 anos para estudar na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Conquistou o primeiro lugar na exposição geral da escola em 1928 e, como prêmio, morou por dois anos em Paris. Nesta época, mesmo influenciado pelo surrealismo, pelo cubismo e pela arte muralista mexicana, começou a criar um estilo próprio fundindo a arte concreta com a abstrata, o que o consagraria em poucos anos. Mesmo à distância, se sentia perto de um universo que seria para sempre sua fonte de inspiração, o Brasil rural. “Vou pintar a minha gente com aquela cor e aquelas roupas. Com seus pés grandes e descalços, suas mazelas e suas festas. Eu, apesar dos meus sapatos de verniz, me sinto na verdade um camponês com eles”.
Partindo sempre do sólido terreno da memória e da infância, Candido Portinari desenhou um Brasil moderno, emocionante e uma obra atemporariamente fresca. Guerra e Paz, considerada por ele sua grande obra, retrata a guerra nas imagens dos retirantes da seca, da injustiça social, da fome e da morte. E a paz nas brincadeiras infantis, no casamento na roça, nas cirandas de roda nos dias felizes e alaranjados.
Com uma produção incansável de mais de 5.000 obras, poemas e ilustrações, Portinari morreu em fevereiro de 1962 intoxicado pelas tintas. Seu filho, João Candido, cria em 1980 a FUNDAÇÃO PORTINARI, que busca incansavelmente catalogar obras, desenvolver projetos de análise crítica da realidade brasileira através da arte, e manter vivo o legado do maior pintor modernista brasileiro.
As roupas dessa coleção se pintam de laranjas e azuis dos céus de Portinari, se desenham em formas e volumes fluidos, e se revelam em decotes amistosos. Bordam-se de fios soltos e se vestem da alta tecnologia do fio AMNI biodegradável em relação afetuosa com linho, seda e algodão.
No Brasil-novo-rico, a obra de Portinari ainda grita e seu legado se faz caro em tempos desmemoriados e apáticos.” – Ronaldo Fraga
Ficha Técnica:
Direção criativa: Ronaldo Fraga
Beleza: Marcos Costa
Trilha: Ronaldo Fraga
Direção de desfile: Roberta Marzolla
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[toggle style=”closed” title=”Desfile completo – fotos”][/toggle]